23.5.09

A Buchholz

A Buchholz fechou. Vai a leilão. Tinha estado lá outro dia num festivo lançamento, amigo. Tinha passado depois, vendo poucos livres, tristes. Num canto, em outra sala, algumas raridades, exorbitantes. A Buchholz estava já com cara de quem tem a morte na cara. Num desses dias que passaram tinha-me cruzado com os que traziam sob a bata branca de seus médicos, a fardeta camarária de coveiros. Despiram-na. A Buchholz há muito que tinha deixado de existir. Livraria poliglota, espécie de pequena amazon babilónica, mas real, onde se podiam sentir os livros, tácteis e alcançáveis, picadeiro de vaidades, em volteio pelas estantes, bibliografia para doutorandos, timbre de classe para os que faziam da diferença método e da sua demonstração meio. A Buchholz fechou. Passou ontem num rodapé de um telejornal. Um sujeito gesticulava iracundo. Os meus olhos desceram à breve notícia. Um mundo feio sujava-me a alma.